Os Porquês do Glúten
Os Porquês do Glúten
Inês Teixeira Duarte
Por Inês Teixeira Duarte Licenciada em Ciências da Nutrição pela NOVA Medical School, UNL
Mestranda em Biomedical Research pela NOVA Medical School, UNL
Joint President da European Network of Dietetic Students

Desde o pão, às bolachas, massas e cervejas, são inúmeros os alimentos que contêm glúten. Mas simultaneamente, também inúmeros produtos “gluten-free” têm surgido. Como tal, não fica claro qual o papel do glúten e, para muitas pessoas, ainda há vários “quês” e “porquês” para esclarecer: O que é o glúten? Porque há quem beneficie de reduzir o seu consumo? Porque é que esses benefícios não são transversais a todos? Será que eu sou uma dessas pessoas?

 

O que é o glúten e como o digerimos?

O glúten é o nome dado a um conjunto de proteínas presentes nas sementes de cereais, como o trigo, a cevada, o centeio e o malte. Ao contrário da maioria das proteínas, este é bastante resistente à digestão! Embora parte possa ser digerido e absorvido, não é de estranhar que a maioria do glúten consumido alcance o intestino delgado praticamente intacto. Para as pessoas com o trato intestinal saudável, a presença de glúten não digerido é inofensiva. [1]

 

Mas então... Porque é que há pessoas que não conseguem tolerar o glúten?

Existem, de facto, patologias específicas que levam à não tolerância do glúten. São elas:

  • Doença Celíaca: Neste caso, a pessoa tem uma parede intestinal de alguma forma comprometida. Isto significa que, quando consumir produtos com glúten, a proteína pouco digerida consegue interagir com a parede intestinal, e despoletar uma resposta inflamatória.
  • Sensibilidade ao glúten não celíaca: É o caso das pessoas com sintomas semelhantes à doença celíaca após consumo de glúten, mas que não apresentam resposta inflamatória e danos ao nível do intestino. [2]

 

Isso significa que devo reduzir o consumo de alimentos com glúten?

Não! Na realidade, de acordo com a Associação Portuguesa de Celíacos, apenas 1% da população portuguesa apresenta doença celíaca. Assim, a maioria das pessoas não beneficiará com uma redução ou eliminação do glúten da dieta, por si só.

No entanto, deixamos aqui algumas linhas orientadoras caso queiras saber como proceder:

Tens diagnóstico de doença celíaca ou sensibilidade ao glúten? 

O preconizado é que haja uma redução do glúten da dieta, ou até mesmo eliminação. Mas todo este processo deverá ser estabelecido e acompanhado por um nutricionista, considerando cada caso individualmente.

Não tens diagnóstico de nenhum dos casos acima mencionados, mas apresentas sintomas como inchaço, diarreia ou cólicas após o consumo de alimentos com glúten? 

Deverás procurar acompanhamento médico para averiguar a causa dos sintomas antes de iniciar qualquer alteração do padrão alimentar.

Não apresentas nenhum sintoma após o consumo de alimentos com glúten? 

Para os indivíduos que toleram o glúten mas seguem uma dieta restrita em tal, não existe evidência científica que indique ou melhorias da saúde, ou aumento da prevenção de doenças. [3] Assim, não existe indicação para reduzires o consumo de glúten.

 

Em Resumo:

Existem patologias em que o consumo de glúten não é tolerado, e a sua exclusão (parcial ou total) é aconselhada. No entanto, tais casos não refletem a maioria da população!

Como tal, não existe indicação de qualquer tipo restrição ao consumo de glúten para a população em geral e, ao fazê-lo, deverá ser sempre com acompanhamento de um profissional de saúde qualificado.

 

Referências

[1] J.L, M.L.K.& R. (2017) Krause’s Food & the Nutrition Care Process. 14ª Edição. St. Louis, MO: Elsevier.

[2] Leonard, M.M. et al. (2017) ‘Celiac disease and nonceliac gluten sensitivity’, JAMA, 318(7), p. 647. doi:10.1001/jama.2017.9730.

[3] Gaesser, G.A. and Angadi, S.S. (2012) ‘Gluten-free diet: Imprudent dietary advice for the general population?’, Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, 112(9), pp. 1330–1333. doi:10.1016/j.jand.2012.06.009.