Desde o pão, às bolachas, massas e cervejas, são inúmeros os alimentos que contêm glúten. Mas simultaneamente, também inúmeros produtos “gluten-free” têm surgido. Como tal, não fica claro qual o papel do glúten e, para muitas pessoas, ainda há vários “quês” e “porquês” para esclarecer: O que é o glúten? Porque há quem beneficie de reduzir o seu consumo? Porque é que esses benefícios não são transversais a todos? Será que eu sou uma dessas pessoas?
O que é o glúten e como o digerimos?
O glúten é o nome dado a um conjunto de proteínas presentes nas sementes de cereais, como o trigo, a cevada, o centeio e o malte. Ao contrário da maioria das proteínas, este é bastante resistente à digestão! Embora parte possa ser digerido e absorvido, não é de estranhar que a maioria do glúten consumido alcance o intestino delgado praticamente intacto. Para as pessoas com o trato intestinal saudável, a presença de glúten não digerido é inofensiva. [1]
Mas então... Porque é que há pessoas que não conseguem tolerar o glúten?
Existem, de facto, patologias específicas que levam à não tolerância do glúten. São elas:
- Doença Celíaca: Neste caso, a pessoa tem uma parede intestinal de alguma forma comprometida. Isto significa que, quando consumir produtos com glúten, a proteína pouco digerida consegue interagir com a parede intestinal, e despoletar uma resposta inflamatória.
- Sensibilidade ao glúten não celíaca: É o caso das pessoas com sintomas semelhantes à doença celíaca após consumo de glúten, mas que não apresentam resposta inflamatória e danos ao nível do intestino. [2]
Isso significa que devo reduzir o consumo de alimentos com glúten?
Não! Na realidade, de acordo com a Associação Portuguesa de Celíacos, apenas 1% da população portuguesa apresenta doença celíaca. Assim, a maioria das pessoas não beneficiará com uma redução ou eliminação do glúten da dieta, por si só.
No entanto, deixamos aqui algumas linhas orientadoras caso queiras saber como proceder:
Tens diagnóstico de doença celíaca ou sensibilidade ao glúten?
O preconizado é que haja uma redução do glúten da dieta, ou até mesmo eliminação. Mas todo este processo deverá ser estabelecido e acompanhado por um nutricionista, considerando cada caso individualmente.
Não tens diagnóstico de nenhum dos casos acima mencionados, mas apresentas sintomas como inchaço, diarreia ou cólicas após o consumo de alimentos com glúten?
Deverás procurar acompanhamento médico para averiguar a causa dos sintomas antes de iniciar qualquer alteração do padrão alimentar.
Não apresentas nenhum sintoma após o consumo de alimentos com glúten?
Para os indivíduos que toleram o glúten mas seguem uma dieta restrita em tal, não existe evidência científica que indique ou melhorias da saúde, ou aumento da prevenção de doenças. [3] Assim, não existe indicação para reduzires o consumo de glúten.
Em Resumo:
Existem patologias em que o consumo de glúten não é tolerado, e a sua exclusão (parcial ou total) é aconselhada. No entanto, tais casos não refletem a maioria da população!
Como tal, não existe indicação de qualquer tipo restrição ao consumo de glúten para a população em geral e, ao fazê-lo, deverá ser sempre com acompanhamento de um profissional de saúde qualificado.
Referências
[1] J.L, M.L.K.& R. (2017) Krause’s Food & the Nutrition Care Process. 14ª Edição. St. Louis, MO: Elsevier.
[2] Leonard, M.M. et al. (2017) ‘Celiac disease and nonceliac gluten sensitivity’, JAMA, 318(7), p. 647. doi:10.1001/jama.2017.9730.
[3] Gaesser, G.A. and Angadi, S.S. (2012) ‘Gluten-free diet: Imprudent dietary advice for the general population?’, Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, 112(9), pp. 1330–1333. doi:10.1016/j.jand.2012.06.009.